2006-07-03

I was never here. I will never be

Nunca aqui estive. Nunca aqui estarei.
Estou em todo o lado, e de certo modo... em lado algum.
Estarei onde ninguem sonha que eu esteja.
Estarei onde eu sei que nunca irei estar.
Para lá do que é sonhado, e aquém do que seria de esperar ser vivido.
Vivendo no esperar adormecido de quem anseia que seja lá que me encontre... onde eu nunca estive.

2006-01-17

Pelintras aos Molhos

Ontem pela manhã, notei um grande alvoroço de gente em torno de uma recentemente inaugurada superficie comercial aqui na zona de Sesimbra. Mais não era que uma boa dúzia de trabalhadores a semearem chorões em redor do estacionamento da dita superficie.
É sempre bom ver jardinagem, mesmo para simples chorões, e prefiro vê-los ali do que um simples barro sujeito à erosão da chuva.
Hoje à noite, na volta do trabalho, noto 2 ou 3 carros encostados à berma de piscas ligados, e junto ao terreno.
E o que eram?
Enfim, os sujeitos estavam sobre o tal terreno a roubar os chorões, imagine-se.
E o curioso é que estavam de colete (daqueles que tanta polémica causaram há uns meses).
Não deixa de ser curioso....os pelintras estavam a roubar, mas em respeito às mais recentes alterações ao código da estrada.
Imagino um carro da polícia que por ali pare...
"Boa noite, tá tudo em ordem?"
"Bô noite, seu guarda. Tamos todos em ordem. Estamos aqui só a roubar uns chorões mas não demoramos muito"
"Sim senhor... tem os coletes, seguro e selo em dia, os piscas estão ligados... um bom resto de noite, e bem hajam os chorões"
E é assim, neste país de que às vezes me envergonho, onde toda a gente tenta roubar toda a gente, é caso para dizer "Pelintras aos molhos, e por causa deles choram os meus olhos".

2005-12-01

Porquê tanta preocupação?

Porque nos preocupamos tanto?
É uma pergunta que muitas vezes me faço.
Porque me preocupo pelo facto de nos preocuparmos tanto?
Porque me preocupo em escrever aqui?
E tu, porque te preocupas tanto em ler isto?
Não nos deviamos preocupar tanto, não com coisas que, no fundo, não somos totalmente capazes de controlar.

Ontem era dia de trabalho afincado.
Acordei 1 hora mais cedo.
Um problema indecifrável da porta da garagem fez-me perder 5 minutos.
Depois de muito mexer nos botões, aquilo lá abriu, de uma forma tão inesperada como havia surgido teimosamente fechada.
Tinha de atestar gasolina. Com as bombas todas ocupadas, perdi cerca de 10 minutos até uma vagar.
Resistência acima do normal a entrar na ponte 25 Abril, perdi ali uns 5/10 minutos, nada de realmente inesperado.
Assim que saí da ponte....o trânsito estacou, lá fui avançando até encontrar a minha faixa, a da direita, para a A5.
Sempre tive a ideia que era um problema algures no eixo norte-sul, puro engano...era mesmo na Pimenteira, no 1º lanço de A5 que percorro todos os dias.
Um rasto de areia branca na faixa da direita, carros dos bombeiros e da polícia indicavam claramente um acidente, daqueles que dia sim, dia não, nos tiram do sério.
Perdi ali 15 minutos até perceber que o trânsito estava parado, não por causa de faixas bloqueadas, mas sim por causa do voyeurismo horripilante de quem conduz.
Ainda antes de estacionar na garagem, dou por mim a esperar pacientemente que uma carrinha descarregasse sabe-se lá o quê, para dispersar uma mini-fila que entretanto se tinha formado.

E assim cheguei ao trabalho, da hora que dei de avanço, perdi cerca de 40 minutos.
Se a ideia era ter mostrado algum tipo de preocupação...não consegui.
Não me devia ter preocupado.

Abro o portátil, como sempre naquele estado de suspensão/hibernação.
Desta vez amoou e ficou ali num ecrán escuro, até ter de cancelar e obrigá-lo a arrancar de novo.

Começo a minha tarefa planeada para a manhã às 11:10.
Um problema não completamente resolvido obrigou-me a esperar hora e meia a ver ficheiros a serem copiados, cerca de 5 gigas no total. A operação retomou normalmente pelas 12:35.
Como acordei mais cedo, o pequeno almoço foi também mais cedo, e com ele...veio a fome mais cedo. Mas não podia ir almoçar, aquele processo tinha de ser acompanhado por mim.
O que eu tinha usado ainda no dia anterior não estava a funcionar ali e naquele momento, já com os meus colegas a almoçar. Lá arranjei maneira de continuar e entretanto lá fui almoçar, lá pelas 13:30.
Volto do almoço pelas 14, e descobri que afinal...não podia ter feito o que fiz antes de ir almoçar, porque outro processo estava a ser efectuado que era de certa forma incompatível.
Volto a refazer partes do que já tinha feito, por volta das 15 tudo parece estar em ordem.
E assim termino às 15 algo que, na minha mente mais pessimista deveria estar concluida antes das 13.

Mas porque me preocupo eu tanto?
E prosseguiu a tarde, com mais tarefas, todas elas já bem delineadas e semelhantes.
Tal era o afinco que mail nem notei, foi preciso um telefonema para alertar "Olha, já viste o mail?". Um convite para a noite especial de descontos FNAC. Não sei qual deles é o mais irresistível, se a FNAC, se os descontos, se a companhia. "Sim, conta comigo, hoje está a ser um dia complicado, ligo-te mais tarde quando estiver pronto".
A minha ultima tarefa agendada teve de ser adiada por incompreensíveis instalações de última hora de hardware. Virei-me para outras, entretanto, porque trabalho não faltava.
"Olha, eu só devo estar despachado lá para as 22:30".
Veio uma pizza para 4, e com ela uma leve sensação de dejá-vu.
A sensação de ter sido apanhado na preocupação e stress de alguem bem acima de mim, e no entanto, estar a fazer algo de absolutamente arriscado e tecnicamente execrável: uma instalação em produção em larga escala, e sem testes.
Um bug chato levou os meus ultimos minutos antes das 22:35, quando arrumei o portátil e me levantei.
Depressa percebi que aquele bug estava ali para me tirar do sério, para me tirar um fim de noite descansado e uma ida à FNAC com companhia apreciada.
"Vou ver se me consigo despachar antes da meia-noite, vamos ver. Depois digo-te qualquer coisa".

Quando reabri o portátil, um dos programas que eu eu utilizo mais, e naquelas operações fundamental deixou de arrancar misteriosamente. Um estranho "erro de parse" algures impedia-me de o utilizar.
Naquele momento havia uma corrida contra o tempo para impedir que o bug causasse mais estragos, e eu sentia-me impotente para controlar a situação.
"Olha, apesar de isto estar a andar bem, acho que já não vai dar", assim se enterrou a última réstea de esperança para um momento descontraído naquele dia maldito.
A certa altura, até o meu rato wireless se queixou de falta de pilha.

E é nestas alturas que eu rogo pragas e blasfemo como nunca.
No fundo, blasfemo contra mim próprio, por me preocupar tanto com estas coisas.

Depois de analisar a fundo a situação, percebi que o bug tinha afinal um impacto negativo bem controlado, e que não era necessário aplicar uma correcção.
Pela 1:30 da manhã dei por concluído o dia de trabalho, nas esperança que alguma emergência não me retirasse o feriado, como o "dever de plantão" me iria retirar a ponte de férias.

E há dias assim para todos nós.
No fim, fico a pensar que não devia ter acordado uma hora mais cedo, que devia ter ido almoçar mais cedo, que devia ter saído pelas 22:30 e que, muito provavelmente, deveria ter escolhido outra profissão.
O que eu sei mesmo, é que nunca me devia ter preocupado tanto...

2005-11-29

"Cosmos é tudo o que há, o que houve e ainda haverá algum dia"

E assim começa uma viagem épica de (re)descoberta da imensidão de tudo o que nos rodeia.
Apesar de encarcerado num écran 4/3, é impossível não nos deixarmos levar por esta série de divulgação científica produzida há 25 anos.
Lembro-me vagamente de em miudo perder-me naquelas imagens (e também na banda sonora) da série Cosmos.
E assim me perdi, andava há meses a entrar na FNAC e a de lá sair fingindo que não via aquelas duas embalagens DVD, mas ontem não me fiz de esquecido.
E assim....divagando se vai ao longe

O Fiel Jardineiro

Foi de rompante. Ao saber que o filme "O Fiel Jardineiro" era realizado por Fernando Meirelles, o alquimista brasileiro por detrás de "Cidade de Deus", não quiz esperar mais.
O ambiente é algo diferente das favelas brasileiras, mas a pobreza também está lá. E com ela, a degradação humana de ver quem ganha com a miséria alheia. Uma defensora dos direitos humanos e sem papas na língua apaixona-se por um diplomata inglês.
Tarde ele descobre o valor dela, foi preciso ser assassinada, desfigurada e difamada para que ele fosse no encalço da verdade, uma cruél verdade.
Salpicos de imagens fabulosas de África entrecruzam-se com tramas de gente ardilosa e sem escúpulos. Recomendo a quem se comove e a quem se interessa pelos mais desprotegidos.

2005-11-27

Ouvindo

E nos últimos dias são duas as músicas que me ressoam no ouvido.

"I'm Learning to Fly", de Tom Petty & The Heartbreakers, que já conhecia mas surgiu inesperada por entre algumas cenas do filme Elisabethtown.
Porque as asas nascem a quem quer voar, e no momento certo.

"Amarantine", de Enya, do álbum com o mesmo nome, uma aquisição recente.
Uma música linda que me faz lembrar algo que não consigo bem definir.
Amarantine é o nome de uma flôr mítica de que se diz ser imortal.

Elisabethtown, um filme

Profundo, para nos deixarmos emergir no prazer das pequenas coisas.
Aconselho aos que já não querem conselhos, aos perdidos que não se querem achar.

2005-06-15

Aperto Distante

Marioneta de mim, aperta sem fim.
Aperto distante, remoto, pulsante.
A pulso talhado, em bruços caído,
em braços cavado, no brio perdido.

Estéril

Devesse ao vicio devir arredado,
e viesse enfim o verde florir.
Não aflora, cá dentro, lá fora no prado,
cercado em mim, apraz-me à vida fugir.

2005-06-14

Erosão

Sem chão, sem muro nem tecto.
Ao sol e ao vento descoberto, assim se solta o sedimento.
Solto a palavra que nada ganha, que não se perde,
e se emaranha no pó que na morte se desprende.